Não sei você, mas eu cresci ouvindo que amigo de verdade é aquele que dá o ombro, que chora com você…. aquele para quem você sente que pode ligar nas horas difíceis e que vai apontar seus erros.
É esse padrão social que a gente interioriza desde criança, que o amigo de verdade é aquele que aparece pra fazer “a parte chata”, e que os que só querem participar dos momentos bons são os amigos de momentos, mas não os da vida.
Eu sempre gostei de ter amigos da vida – e desde pequena tive a sorte de encontrar duas para chamar de irmãs. Uma me apresentou a arte e a outra, a bondade.
Sempre fui menos das festas e da animação, mais das conversas profundas, do cinema e dos rituais com as amigas… achava que isso bastava para cultivar meu amigos da vida. Até que eu descobri o que decidi compartilhar com você hoje…
Dar o ombro é fácil. Difícil mesmo é olhar o outro sem olhar a si mesmo antes.
Eu sei o quanto é bom ter um ombro amigo, sentir que você tem alguém ali que vai estar do seu lado sempre, faça chuva ou faça sol. Acontece que com o tempo a gente descobre que isso é romântico demais, que é insustentável na “vida adulta”.
Desde que comecei a voar com as minhas próprias asas e meus objetivos e desafios subiram de nível, eu descobri que amigo de verdade é aquele que consegue vibrar com suas vitórias. Aquele que está sempre na primeira fila te aplaudindo – e que quando não consegue chegar a tempo do espetáculo liga ou manda flores para te reconhecer.
Dar o ombro é fácil. Talvez você nunca tenha parado para pensar nisso, mas é fácil não só porque é prazeroso poder ajudar alguém que gostamos. É fácil também porque essa sempre é uma situação que envolve o ego, sua capacidade de fazer a diferença para alguém.
Não que a empatia não seja verdadeira ou o sentimento genuíno, acontece que toda vez que você dá o ombro para alguém você está também se provando. Se provando capaz, provando seu valor, alimentando seu ego.
Muitas vezes por não enxergarmos isso vamos nos iludindo com essas situações, repetindo-as até o momento em que nos deparamos com o sucesso do outro e com a nossa frustração… frustração de não saber lidar com isso, com o outro fora do lugar de vulnerabilidade e você fora do lugar de controle.
Ver as vitórias de alguém sempre nos faz olhar para dentro, para onde estamos. O problema é que nem sempre gostamos do que vemos, e é quando não sabemos lidar com isso que passamos a colocar em jogo nossas amizades.
– Ela é tão livre que um dia será presa.
– Presa por quê?
– Por excesso de liberdade.
– Mas essa liberdade é inocente?
– É. Até mesmo ingênua.
– Então por que a prisão?
– Porque a liberdade ofende.
Clarice Lispector
A liberdade ofende, o sucesso alheio ofende, tudo que nos faz reconhecer algo que estávamos evitando ofende. E é por isso que é tão fácil aceitar que amigo de verdade é quem dá o ombro, porque isso nos libera de termos que nos enfrentar.
Pensa… qual a lógica de oferecer “ajuda” para alguém, estar presente nos momentos difíceis, mas não ter a liberdade de dividir com essa pessoa suas melhores conquistas, aquilo do que você se orgulha? Quando um amigo não te dá espaço pra isso, some no fim do espetáculo ou ignora todo seu brilho, é porque ele não é seu amigo de verdade.
E o mesmo serve pra mim, pra você… Não vibrar pelo outro é deixar o ego ganhar o jogo, é se colocar acima da outra pessoa e desvalorizá-la. É não ser genuíno com qualquer coisa que não o envolva primeiramente.
Então, se você está se incomodando com o sucesso de alguém preste atenção que isso é um sinal… sinal de que alguma coisa está te incomodando, sinal de que o problema está aí dentro, que você está insatisfeito com você mesmo em algum ponto.
Mas calma, não precisa se sentir mal e muito menos julgar ninguém… ter um “amigo” que é relapso com suas conquistas, com suas pequenas mostras de evolução ou mesmo com as grandes vitórias, não faz dele uma pessoa ruim. Às vezes, simplesmente, ele não consegue ser seu amigo agora. Talvez ela ainda não tenha se encontrado (e você o faz lembrar disso), talvez esteja apenas passando por um momento de confusão interna.
E por que eu estou te falando tudo isso?
Porque quando eu descobri que meus verdadeiros amigos são aqueles que estão preparados pra me aplaudir e vibrar comigo, algo ficou mais claro na minha cabeça… eu criei mais consciência pra um dos maiores desafios da vida, aceitar que na maior parte do tempo o jogo é entre eu comigo mesmo. E vai ser você com você mesmo.
Isso não significa que você está sozinho, apenas que precisa ser inteiro e pleno. Significa que você precisa estar ciente que na vida tudo vem e vai, mas que você não pode acompanhar essa dança.
Pra isso você precisa se fortalecer, ser inteiro, ser mais você!
Ser mais você e ir buscando as pessoas que estão prontas pra vibrar por você e dispostas a te ajudar a ir pro próximo nível.
É fácil entender porque só quem tem metas e visões claras é que está preparado para vibrar pelo outro. Só assim conseguimos enxergar que o fato de alguém estar no palco não anula nossa possibilidade de ser o próximo a se apresentar. Do contrário, ainda que não lutemos pelo mesmo papel, ele será sempre uma ameaça.
Ser inteiro e ser mais você é o segredo.
E o melhor é que sempre que estiver assim, de bem com você mesmo, você vai entender o momento dos outros, não vai se chatear quando aquele que você considerava um amigo não puder mais sê-lo… vai simplesmente respeitá-lo e procurar as pessoas certas para estarem com você.
Lembra da história da jangada? então, às vezes o caminho é simplesmente virar a página. Quem sabe vocês ainda não se reencontram… pode ser que sim, pode ser que não.
E sabe um jeito fácil de reconhecer aqueles que continuam sendo ou se tornaram seus verdadeiros amigos? Essas pessoas “te acompanham”.
Ainda que vocês não durmam mais um na casa do outro, não se falem todos os dias, não chorem juntos… um amigo de verdade se interessa pela sua vida, por onde você está, por quem você está sendo. Ele quer te reconhecer por isso, sentir orgulho de você.
Há 15 dias eu fiz aniversário e descobri que esse é um ótimo momento para identificarmos verdadeiros amigos. Claro que sempre tem aqueles esquecidos que lembram no dia seguinte (ou só muitos dias depois, rs) e tá tudo bem, isso não torna ninguém menos verdadeiro. A dica é a mensagem, o desejo que vem dessa pessoa.
Me alegrou demais ver quantas pessoas eu tenho ao meu redor que estão atualizadas, conectadas com a Marina de hoje, com quem eu venho buscando ser dia após dia.
Pra você ter uma ideia, depois de uma linda mensagem super coerente, esse foi o presente que recebi do meu sócio – que há tempos eu também já chamava de irmão, e tive apenas mais certeza que estava dando o título certo a ele.
Que surpresa linda. Não podia ser mais Marina esse presente, ele pensou em tudo: uma bailarina, em preto e branco (minhas cores) e ainda com a moldura branca para retratar o padrão das fotos do Tudo pela Arte. 😀
Como é boa a sensação quando sentimos que as pessoas são capazes de nos traduzir. E só o são as que estão conectadas, que são amigos de verdade.
Não, eu nunca chorei com o Gui, nunca compartilhei segredos pessoais, nunca tivemos que dar o ombro um pro outro. Mas estamos juntos todo dia, na ação, fazendo acontecer e sabendo um dos sonhos e planos do outro…
Mais do que saber que se eu precisar vou ter o ombro dele, importa pra mim saber que ele é dos poucos que sabe quem eu sou hoje e quem eu quero ser amanhã. Dos poucos que se preocupa em me ver inteira, sendo mais eu.
Não tenho dúvidas que se eu cair ele vai me ajudar a levantar, mas importa muito mais pra mim ter certeza que ele vai comemorar comigo qualquer sinal de vitória, que em qualquer palco que eu subir vou ter a visão dele na primeira fila me aplaudindo com vontade.
Eu espero que você esteja atento a isso para encontrar pessoas assim na sua vida e ser exatamente assim para quem você quer ter como amigo de verdade.
Porque estar ao lado de alguém na hora do aperto, do erro ou do fracasso é muito fácil. Difícil é ser verdadeiro, levantar e aplaudir com muito entusiasmo a pessoa que está no palco. Sem olhar pra si, sem se importar com onde você está.
Não tenha medo de aplaudir os outro, não se sinta menos por isso, o fato dele estar no palco não anula a sua possibilidade de ser o próximo a subir lá e brilhar. Essa possibilidade só depende de você.
E se por um acaso você olhar pra si e não gostar tanto do que encontrar, ao invés de gastar energia sofrendo com o sucesso desse amigo, seja grato a ele por ter te mostrado que você pode ser muito mais. Enxergar isso é lindo e puro, e só tendo esse olhar que você vai ser capaz de reconhecer as pessoas que vão te levar pro próximo nível, que vão te ajudar a ser quem você quer ser.
Como qualquer pessoa eu já me iludi muito, já me decepcionei com alguns amigos e certamente já decepcionei outros. Já não fui verdadeira por achar que dar o ombro era o mais importante.
Mas muito mudou quando eu descobri o que é ter e ser um amigo de verdade. Isso me fez descobrir pessoas na minha vida, sentir mais profundamente e valorizar bem mais quem está comigo, verdadeiramente conectado (independente se está perto ou longe, se está presente no dia a dia ou não).
E por mais que eu tente me desprender das conceitos românticos, não deixa de ser uma alegria saber que, dos amigos que vem da infância, aquelas duas que eu chamava de irmã posso continuar chamando. A gente se vê pouco hoje dia, se fala cada vez menos, não dormimos mais uma na cada outra, mas eu sei que estou e sempre vou estar pronta para aplaudi-las. Com os olhos cheios de lágrima de orgulho e emoção por sempre saber onde minhas meninas chegariam.
Dar o ombro é fácil. Difícil mesmo é olhar o outro sem olhar a si mesmo antes.
Quando encontrar alguém que faça isso por você, sorria e valorize, você encontrou um amigo de verdade.
E porque não aproveitar o momento para reconhecer um amigo e dizer que você é verdadeiro com ele?
Hoje eu escolhi reconhecer meu amigo e sócio Guilherme.
Se esse texto fez você ir também reconhecer alguém, me conta aqui nos comentários. Vai ser muito gratificante saber disso! <3